Universidade | UFPB |
Programa | PPGAU pós graduação Arquitetura & Urbanismo |
Semestre | 2021.1 |
Créditos/carga horária | 2Cr /30h |
Datas/Horário | Terças Feiras 9h a 12h; 9 Março a 11 Maio |
EMENTA
Este curso oferece aos alunos a oportunidade de desenvolver uma compreensão mais profunda do Antropoceno por meio das lentes das infraestruturas e do ambiente construído e de apresentar suas próprias respostas críticas.
A principal bibliografia e ferramenta conceitual para o curso é o Feral Atlas, uma recente publicação digital comissariada e editada por três antropólogas ambientalistas e uma arquitecta, que explora os mundos ecológicos criados quando entidades não humanas se misturam com projetos de infraestruturas humanas. Em base ao Feral Atlas e observações de campo, os alunos iram a indagar um entendimento multiespecies da cidade e suas infraestruturas.
O programa intensivo enfatiza discussões em grupo, pequenas leituras, pensamento crítico, explorações visuais e reflexões individuais, que serão orientadas e informadas pelo professor. Os alunos serão encorajados a desenvolver abordagens pessoais e talvez não convencionais; entretanto, seu trabalho deve permanecer cientificamente preciso e respeitoso com a pesquisa original.
Objetivos
Ao final do curso, os alunos devem ter:
- aprofundado sua compreensão do Antropoceno
- desenvolvido sua compreensão das responsabilidades como arquitetos na era atual de crise ambiental e climática
- desenvolvido uma sensibilidade e entendimento multiespecies da cidade e suas infraestruturas
- desenvolvido abordagens artísticas para representar pesquisas científicas e observações de campo.
Bibliografía
Gomes da Rocha, Jailton José. 2020. Sociabilidades mais-que-humanas e subumanas nas frestas do colonialoceno. In: Gomes da Rocha, J. J. Nós e os outros animais: sociabilidades e normatividades multiespécies. Editora UFPB ISBN-13 (15) 978-65-5942-002-5.
Haraway, Donna, and Helen Torres (Trad). 2019. Seguir con el problema: generar parentesco en el Chthuluceno. Bilbao: Consonni.
Haraway, Donna. Antropoceno, Capitaloceno, Plantacionoceno, Chthuluceno: gerando relações de parentesco. 2016. Revista Latinoamericana de Estudios Críticos Animales
Krenak, Ailton. 2019. Ideias para adiar o fim do mundo. Companhia das Letras.
Masha Caminals, Amanda. 2020. La ciudad multiespecies. Naturación urbana para la salud y seguridad. In: Rabasco, P. Ciudad y Resiliencia. Última llamada. AKAL ediciones. ISBN: 978-84-460-4990-6.
Tsing, Anna L., Deger, Jennifer, Saxena Keleman, Alder, and Zhou, Feifei (editors). 2020. Feral Atlas. The-More-than-human Anthropocene. Stanford University Press.
Carla Lombardo – COREOPOLÍTICAS DA TERRA: NEOEXTRATIVISMO E SUBSISTÊNCIA NOS ESTUÁRIOS DE SUAPE
Este trabalho apresenta uma cartografia crítica sobre o território de Suape, na região metropolitana do Recife, onde está implantado o maior Porto do Nordeste do Brasil. Nela, capas temporais superpostas misturam as camadas históricas da colonização, exemplificada pelos navios negreiros e os engenhos, com a fase atual de aceleração capitalista, exemplificada pelas infraestruturas do porto industrial e a turistificação. O mapa se baseia no conceito de coreopolítica para apresentar diferentes coreografias políticas em um território em conflito: o fluxo de navios de grande porte -de até 330 mt de comprimento- e a introdução de espécies exógenas, as dragagens que possibilitam a circulação no canal e causam o desvio do fluxo do rio e do ciclo de reprodução dos tubarões; a rotina da segurança privada em moto na região administrada pelo Complexo Portuário Industrial Suape; as marisqueiras que catam e pescam para subsistir, os moradores da região que transformam esse alimento em um delicioso compost, e das doceiras da região, algumas das quais coletam os frutos -cajus, jenipapo, jaca- para preparar suas iguarias.
Carlos Pastor- ESTAÇÃO SAPO: AGÊNCIAS CRÍTICAS PARA INFRAESTRUCTURAS MULTIESPÉCIES
Uma dúzia de campos de golfe ocupa a costa de Alicante. Paradoxalmente, embora estes complexos residenciais e recreativos tenham transformado completamente os ecossistemas circundantes, a procura de recursos e energia de que necessitam tem servido para sustentar a vida de dezenas de espécies. A inauguração da estação de tratamento de água de l’Alacantí Nord em 2011, fez crescer um pomar ao longo dos anos, com os 2,5 milhões de litros de água tratada por ano que acabam no mar. Popularmente conhecido como o Rio Seco, durante séculos o seu curso era intermitente, pois cada pingo de água era utilizado para a irrigação inteligente de uma das copas da Europa. A família de turistas que vive agora no apartamento, cuida do ecossistema vizinho. Regressarão a casa sem saberem que participaram na manutenção de uma paisagem delicada que estava à beira da extinção há alguns anos.
Alice Piva – BERÇÁRIO MARINHO COMO BARREIRA PROTETIVA DA COSTA URBANA DE JOÃO PESSOA
Cenário chthulucênico composto a partir da implantação de infraestruturas multiespécies para preservação dos corais do Cabo Branco-Seixas na porção da orla marítima da cidade de João Pessoa. Atualmente, esse ecossistema encontra-se em acelerado processo de degradação por causas antrópicas: obras de contenção da erosão costeira e pela pressão ecológica exercida pelo turismo predatório, pelo processo intenso de urbanização da orla nas últimas décadas e pelos efeitos da mudança do clima global. O projeto trata-se de uma arquitetura solar punk regionalmente espacializada, que surge através do reconhecimento das relações de parentesco entre a autora e as comunidades habitantes dos corais. Soluções baseadas na natureza são esquematizadas a partir de dados bio-geológicos locais e sistemas de fabricação bio-digitais para adaptação do habitat e das dinâmicas de ocupação das áreas marinhas e costeiras, criando oportunidades para prototipagem de comunidades além-de-humanas.
Guilmar Queiroz – MEANDRO PAJEÚ: CARTOGRAFIA CRÍTICA DOS IMPACTOS DO ANTROPOCENO NO RIO PAJEÚ, EM PERNAMBUCO
Com os processos de colonização e industrialização das cidades, a relação entre os rios e o meio urbano tem se tornado conflituosa, acarretando em graves impactos ambientais e socioeconômicos. Desde o crescimento significativo de suas cidades vizinhas, todo o percurso da bacia hidrográfica do Rio Pajeú, localizado no estado de Pernambuco, tem sido progressivamente degradado por intervenções indevidas: Poluição de recursos hídricos com deposição de lixo e esgotamento doméstico e industrial, desmatamento de sua mata ciliar e extração de quantidades significativas da areia do rio. O projeto surge a partir de uma relação pessoal entre o autor e o Rio Pajeú, com o intuito de expressar graficamente, através de uma cartografia crítica, a relação antropocênica entre o rio, suas cidades margeadas e as espécies além-de-humanas.
Imagem header: Carolly Barbosa.