UniversidadeUFPB DAU
Créditos/carga horária6Cr/90h
Semestre2018.2
Datas/HorarioOutubro/18 a 22 h
LocalSala
EmentaPDF

1. EMENTA

Projeto de Edificações em áreas de interesse histórico. Conservação e renovação arquitetônica. Aspectos relativos à percepção dos conjuntos arquitetônicos em áreas de interesse histórico-cultural.

2. OBJETIVO GERAL

Desenvolver anteprojeto arquitetónico de valor histórico-patrimonial e carater de memorial na localidade de Bento Rodrigues.

3. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Desenvolver técnicas avançadas de coleta de dados em áreas de interesse histórico; entender a traves da cartografia os processos históricos em suas múltiplas escalas sócias, económicas e ambientais; desenvolver visão crítica sobre a área de intervenção entendendo as dinâmicas ali instaladas mas também as redes e fenômenos amplos vinculados; propor programa de intervenção buscando novos cenários ligados à contemporaneidade; desenvolver composições arquitetônicas que possam se integrar ao entorno já construído; desenvolver capacidades para trabalho colaborativo e interdisciplinar; introduzir as escala planetária na concepção do projeto arquitetônica.

4. INTRODUÇÃO

Tomando como ponto de partida a consideração da zona cero da catástrofe de Mariana – o maior desastre ambiental da historia de Brasil – como área de interesse histórico, o curso propone uma intervenção arquitetônica no seu epicentro emblemático: as ruínas de Bento Rodrigues.

No final de ano 2015 a pequena localidade mineira de Bento Rodrigues (Mariana, MG) se convertia numa Pompeia contemporânea, uma memória iconográfica que o tempo congelou. A diferencia da cidade romana, a total destruição da localidade não tinha origem num evento natural -um vulcano-, mas antropogênico – o rompimento de um barragem construído para acomodar os rejeitos provenientes da extração do minério de ferro que são retirados de extensas minas na região. A lama produz 19 mortes diretas de moradores e danificou a bacia do Rio Doce e uma grande área costa atlântica do Brasil.

5. SITIO

Bento Rodrigues é um subdistrito no município mineiro de Mariana. O subdistrito encontra-se a 35 km do centro de Mariana e a 124 km de distância da capital do Estado, Belo Horizonte. Em 2015, Bento Rodrigues tinha uma população estimada em 600 habitantes, que ocupavam cerca de 200 imóveis. O subdistrito foi um importante centro de mineração do século XVIII e o caminho da histórica Estrada Real atravessa seu centro urbano, ligando-o aos distritos de Santa Rita Durão e de Camargos. Atualmente a área ainda se caracteriza pela intensa atividade de extração mineral. No subdistrito se localizam as barragens de rejeitos de mineração denominadas Fundão e de Santarém, ambas operadas pela empresa mineradora Samarco. Além da mineração, o turismo também movimenta a economia local. Bento Rodrigues conta com um hotel fazenda logo na entrada do subdistrito, além de belezas naturais como Cachoeira do Ouro Fino, uma queda d’água de 15 metros, com lago de 5×3 metros e profundidade máxima de 1,5 m. Nas adjacências do subdistrito, além do rio Gualaxo do Norte, localizam-se distritos e povoados como os de Paracatu, Paracatu de Baixo, Rio Doce, Camargos, Barra Longa, Santa Rita Durão, Barreiro e Gesteira. Um novo povoado de Bento Rodrigues será construído para que os antigos habitantes possam deixar as casas alugadas e voltar às suas vidas. Em maio de 2016, foi decidido que os prédios ficarão em um terreno a cerca de nove quilômetros do distrito destruído; uma área de 89 hectares de propriedade conhecida por Lavoura, de propriedade da ArcelorMittal. O uso para o sitio atual de Bento Rodrigues fica por determinar.

6. O ACONTECIMENTO

O rompimento da barragem de Fundão, localizada no subdistrito de Bento Rodrigues, a 35 km do centro do município brasileiro de Mariana, Minas Gerais, ocorreu na tarde de 5 de novembro de 2015. Rompeu-se uma barragem de rejeitos de mineração controlada pela Samarco Mineração S.A., um empreendimento conjunto das maiores empresas de mineração do mundo, a brasileira Vale S.A. e a anglo-australiana BHP Billiton. Inicialmente, a mineradora Samarco informou que duas barragens haviam se rompido – a de Fundão e a de Santarém. Porém, no dia 16 de novembro, a Samarco retificou a informação, afirmando que apenas a barragem de Fundão havia se rompido. O rompimento de Fundão provocou o vazamento dos rejeitos que passaram por cima de Santarém, que, entretanto, não se rompeu. As barragens foram construídas para acomodar os rejeitos provenientes da extração do minério de ferro retirado de extensas minas na região. O rompimento da barragem de Fundão é considerado o desastre industrial que causou o maior impacto ambiental da história brasileira e o maior do mundo envolvendo barragens de rejeitos, com um volume total despejado de 62 milhões de metros cúbicos. A lama chegou ao rio Doce, cuja bacia hidrográfica abrange 230 municípios dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, muitos dos quais abastecem sua população com a água do rio. Ambientalistas consideraram que o efeito dos rejeitos no mar continuará por pelo menos mais cem anos, mas não houve uma avaliação detalhada de todos os danos causados pelo desastre.

7. OBJETO DA INTERVENÇÃO

A intervenção tem como objeto a adequação do sitio de Bento Rodrigues num memorial, refletindo no seu programa sobre a complexidade social, econômica e ambiental do desastre acontecido em 2015. Dessa maneira, o curso propõe a exploração de uma nova tipologia de memorial, um Geo-Memorial, definido este por um programa que deve refletir tanto na memória das populações humanas e não humanas afetadas como nas múltiplas escalas geográficas e geológicas do acontecimento: planetária, região, município.

8. MÉTODOS E TÉCNICAS DE ENSINO E APRENDIZAGEM

Estudo de campo, cartografia, seminários de textos e desenho de anteprojeto.

9. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

Unidade I – Estudo preliminar – 21 horas (peso 3,10)

Apresentação do curso (3 horas), seminários de textos e desenho de cartografia do acontecimento como estudo preliminar do projeto (peso 10,0).

  • 1º atividade – Seminário de textos “A tragédia de Mariana”.  (3 horas) No primeiro seminário de textos abordaremos a literatura científica sobre o desastre de Mariana produzida por arquitetos e pesquisadores de outras disciplinas. Os estudantes elaboraram uma lista de três artigos de interesse que publicaram nas referencias bibliográficas e escolheram cada um de eles um artigo académico que comentaram  num texto de três páginas e que iram apresentar para o resto dos estudantes (peso 3,10)
  • 2º atividade – Estudo cartográfico “Anatomia do desastre de Mariana”. (12 horas horas). Estudo preliminar cartográfico com objeto de entender o acontecimento nas suas multiples escalas local, regional e planetaria, e sócias, econômicas, ambientais. Os estudantes trabalharam em grupos de três personas para desenvolver uma cartografia colaborativa de grande formato. Adicionalmente será realizado de manera colaborativa um modelo tridimensional da área de Bento Rodrigues (peso 4,10).
  • 3º atividade – Seminário de textos “O Antropoceno e o clima da historia”. (3 horas) Neste segundo seminário abordaremos a discussão histórica contemporânea a partir do texto “O clima da historia: quatro teses”, de Dipesh Chakrabarty. Cada estudante elaborara um texto critico de três paginas que apresentara em publico como antessala para um debate. A atividade inclui uma palestra sobre o nova época geológica do Antropoceno e suas implicações (peso 3,10)

Unidade II – Reconstrução digital do sitio de intervenção – 9 horas (peso 1,10)

Reconstrução digital do sitio de intervenção de Bento de Rodrigues em base a fotografias e videos achados na Internet em modalagem 3D em sketchup.

Unidade III – Projeto – 45 horas (peso 6,10)

Desenvolvimento de projeto a partir dos aprendizados das unidade 1 e 2.

  • 1º atividade – Seminário “Memoriais e Intervenção em Patrimônio”.(3 horas). Seminário prévio a(peso 1,10).
  • 2º atividade –Projeto de “Geo-memorial para Mariana”. (39 horas). Desenvolvimento de projeto com elaboração de programa, maquetes físicas, maquetes 3D, seções, levantamentos (peso 8,10).

10. MÉTODOS E MEIOS DE AVALIAÇÃO

Será exigida 75% da frequência. As avaliações se farão depois das unidades 1, 2 e 3.

11. BIBLIOGRAFIA

Arcuri, Marcia, Paulo Otávio Laia, and Rodrigo Suñer. 2015. Territórios e patrimônios na lama das negociações: desafios para a museologia comunitária na Barragem de Fundão. Arquivos do Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG 24 (1–2).

Chakrabarty, Dipesh. 2009. O clima da Historia: Quatro Teses. Sopro 91.

Dias, Adriano, Gustavo Luz, Viviane Assunção, and Teresinha Gonçalves. 2018. Mariana, O Maior Desastre Ambiental Do Brasil: Uma Análise Do Conflito Socioambiental. In Planejamento e Gestão Territorial: A Sustentabilidade Dos Ecossistemas Urbanos, 455–76.

Ediunec. Galvão, Nadielli Maria dos Santos, João Arlindo de Vasconcelos Monteiro, and Andreza Cristiane Silva de Lima. 2018. Desastre ambiental em Mariana, Minas Gerais (MG): um estudo à luz da teoria da Legitimidade.Revista Brasileira de Contabilidade, no. 229 (March): 14–29.

Ghoshn, Rania. 2018. Geostories: Another Architecture for the Environment. New York, NY: Actar Publisher.

Lopes, Luciano Motta Nunes. 2016. O rompimento da barragem de Mariana e seus impactos socioambientais. Sinapse Múltipla 5 (1): 1.

Miranda, Maria Geralda, Reis Friede, Aline Cordeiro Rodrigues, Dafne Sampaio Almeida, Maria Geralda Miranda, Reis Friede, Aline Cordeiro Rodrigues, and Dafne Sampaio Almeida. 2017. Where Is My City, or the Impact of Samarco’s Tragedy in the Lives of Bento Rodrigues’s Residents. Interações (Campo Grande) 18 (2): 3–12.

Silva, Géssica Auxiliadora da, Diego Luiz Teixeira Boava, and Fernanda Maria Felício Macêdo Boava. 2017. Refugiados de Bento Rodrigues: o desastre de Mariana, MG.


Students works:
Simpoi ex Machina: genesis do Chthuluceno em MG
Estudante: Alice Piva
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